Por: Eliane Trindade
BAUANA (AM)
É com orgulho que Caio Carmo, 20, carrega o título de embaixador da Litro de Luz na comunidade de Bauna, distante três horas e meia de bote de Carauari (AM), a sede do município.

A localidade ribeirinha é uma das beneficiadas pela ação da ONG, presidida por Laís Higashi, finalista do Troféu Grão 2019, realizada com a Asproc (Associação dos Produtores Rurais de Carauari) e parceiros.

Caio Carmo é embaixador da Litro de Luz em Bauana, povoado do município de Carauari (AM) beneficiado por ação que chegou a 680 famílias|Foto: Reprodução

Nascido e criado em Buana, ele é membro de uma das 22 famílias que receberam o lampião de garrafa pet para auxiliar na iluminação da comunidade que já ficou até seis meses com o gerador movido a diesel quebrado.

A seguir, o depoimento dele durante o curso de treinamento para manutenção dos lampiões, após um ano da distribuição dos “litros de luz”, abastecidos por uma pequena placa solar.

“O Litro de luz é uma inovação que chega para nos mostrar que existem muitas outras que podem melhorar nossas vidas.

Ser embaixador é algo importante na sociedade, é saber que as pessoas podem contar com a gente. Eu virei embaixador da Litro de Luz por acaso. Meu primo foi chamado para fazer o curso, mas não deu para ele ir. Acabei indo lá. Não sabia de nada.

Foi incrível passar a conhecer e usar uma fonte de energia solar, que não agride o meio ambiente. É motivante pra gente também deixar de usar a lamparina. Somos gratos de ter os litros de luz na nossa comunidade.

Só tinha visto energia solar no ensino médio. Mas era uma tecnologia no Japão. Parecia inacreditável. E o litro de luz é muito simples. A gente pode fazer por aqui mesmo, basta ter um cano de PVC e uma garrafa PET.

É bem gratificante ver o que significa para as famílias ter luz até mais tarde. O impacto do Litro de Luz na comunidade é muito grande e pode ser testemunhado com o fato de uma mãe estar cozinhando e dando comida para os seus filhos à noite usando uma fonte de luz renovável.

Ela não tem um custo extra, o que é bonito de se ver. Antes, ela ia precisa gastar, ter um custo grande com querosene para a lamparina ou para pagar o diesel para o gerador funcionar.

Todas as pessoas daqui abraçaram isso como alguma coisa grande que nos aconteceu. Hoje, nos encontramos sem energia na comunidade. O gerador a diesel está quebrado. Através dessa fonte de energia limpa, estamos usufruindo de energia solar, em um lugar que não tem energia elétrica no Brasil.

Antes, a gente costumava jantar cedo, pois não tinha energia. O alimento nosso é mais peixe. Se não tomar cuidado pode acontecer algo ruim, engasgar com espinha.

Sem luz, a gente ia deitar 19h, 20h.Agora, com o litro de luz dá para ficar mais um tempinho conversando. Ganhamos umas quatro horas. Ficou animado. As famílias e a comunidade socializam mais. O dia fica longo. Antes, a noite demorava a passar.

Nossa comunidade usa o litro de luz de forma conjunta também. Um lampião de um vizinho quebra uma peça, o outro ajuda a consertar. Acabei de aprender a fazer a manutenção e vou poder consertar os lampiões que quebraram ou não estavam mais funcionando depois de um ano de uso.

É muito útil também para as pessoas que acordam de madrugada para ir trabalhar nas casas de farinha. Ainda no escuro. Hoje, você pega o seu lampião para não andar no escuro no meio da floresta. Pode fazer sua comida antes de ir para a roça. Os seringueiros também usam para ir trabalhar, pois também começam muito cedo. O litro de luz significa tudo isso. É bem bacana mesmo.

Atualmente, eu trabalho na agricultura. Ajudo meu pai no plantio de mandioca. Mas também vou voltar a estudar. Terminei o ensino médio há dois anos e agora me matriculei na faculdade de pedagogia. Isso só foi possível pois o curso vai funcionar aqui ao lado, na base da Fundação Amazônia Sustentável, em Bauana mesmo. É uma oportunidade que nem estava esperando. Ter um diploma superior. Terminando, quero fazer alguma especialização na área. Meu sonho é aprender inglês, quero ir mais longe. Não para ficar lá. Quero ter mais conhecimento e trazer para as pessoas que estão aqui.

O Litro de Luz é um exemplo. Foi uma bênção. Vivemos muito tempo sem energia. Antes, só tinha lamparina, uma coisa perigosa. Tinha medo de incendiar as casas, que são de madeira. Pode acontecer acidente com criança. Lembro de uma vez que eu estava brincando com a minha irmã, ela chegou tão perto da lamparina que o cabelo dela pegou fogo. Na agonia, graças a Deus, conseguimos apagar. Poderia ter sido um acidente muito grave.

Essa era uma preocupação grande até chegar esse movimento do Litro de Luz.

Fonte: Folha de São Paulo