O cantor de brega Wanderley Andrade fez um show para garimpeiros em uma região de garimpo ilegal dentro da Terra Indígena Yanomami, em Roraima. No Instagram, o artista, conhecido como ‘Traficante do Amor’, compartilhou vídeos em acampamentos e de uma pista clandestina no meio da floresta amazônica.

(Foto: Reprodução / Instagram / Oficialwanderleyandrade)

Procurado pelo G1, Wanderley afirmou que foi contratado pelos próprios garimpeiros. Ele não revelou quanto recebeu de cachê e se o pagamento foi em ouro ou dinheiro.

Nas redes sociais, o cantor compartilhou dois vídeoselfies. Em um deles, de 1 minuto, Wanderley exibiu os barracos construídos de lona no garimpo conhecido como “Prainha”. A região fica no município de Alto Alegre, ao Norte do estado, às margens do rio Parima.

“Se você é careta fique logo ligado, estou no garimpo, na ‘Prainha’. Vou mostrar meu apartamento […] e ali é o rio. Rio que também tem muito ouro”, diz ele, enquanto filma.

As imagens foram postadas por ele nesse domingo (27), mas o show, segundo o cantor, foi no dia 4 de dezembro.

No outro vídeo, de 44 segundos, Wanderley mostra um avião monomotor ligado enquanto o tempo aparece fechado. As imagens foram feitas quando ele retornava do show.

“Volta do Garimpo, no Estado de Roraima. Garimpo da Prainha! Depois esperar tempo abrir……Deus Seja Louvado! [sic]”, publicou Wanderley na legenda.

Post de Wanderley Andrade após festa em garimpo ilegal em Roraima — (Foto: Reprodução / Instagram / Oficialwanderleyandrade)

Questionado pelo G1 sobre ter ido fazer o show em meio a atividade ilegal, Wanderley afirmou não ter “outra alternativa” e ainda questionou: “será que é ilegal o artista ir onde o povo está?”.

“A gente não tem outra alternativa. Existe uma hipocrisia por parte de todo esse sistema. Nós não temos onde fazer show em parque, em outros locais, está tudo fechado. A gente tem que ter alternativa.”

“Quantas vezes me chamarem, eu vou. Eu vivo disso, preciso disso. Eu vou onde o povo está”, reafirmou, ao ser questionado se iria novamente para a região.

O garimpo “Prainha” fica dentro da Terra Yanomami, próximo às comunidades Xaruna e Macabei. Região de mata fechada, o acesso ao local só é feito de barco — a viagem dura cerca de 4 horas, ou de avião — cerca de 1h30 de voo, saindo da capital Boa Vista.

Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem registrado aumento na tensão entre os povos e os garimpeiros em razão de conflitos causados pela atividade ilegal.

A Terra Yanomami fica entre os estados de Roraima e Amazonas, e em boa parte da fronteira com a Venezuela. Mais de 26,7 mil índios – incluindo grupos isolados – habitam a região em cerca de 360 aldeias.

Indígenas da Terra Yanomami convivem com a tensão causada pela atividade ilegal e os conflitos nas comunidades. Este ano, dois jovens indígenas foram assassinados por garimpeiros, a Covid-19 está em total descontrole, e recentemente o rapto de duas adolescentes causou a morte de dois garimpeiros.

O presidente Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuanna de Roraima (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, que acompanha os conflitos na região, analisou as imagens compartilhadas por Wanderley e classificou o ato como um “descaso”.

“É um descaso com povo Yanomami, principalmente com a saúde. Enquanto nosso povo sofre, e são dizimados pela malária e Cóvid-19 propagada pelos garimpeiros, os mesmos estão realizando festas com artistas nacionais, promovendo a prostituição. Diante disso, o governo federal assiste o descaso e se omite a fazer algo a respeito.”

A Terra Yanomami fica entre os estados de Roraima e Amazonas, e em boa parte da fronteira com a Venezuela. Mais de 26,7 mil índios – incluindo grupos isolados – habitam a região em cerca de 360 aldeias. A estimativa é que mais de 20 mil garimpeiros exploram a região.

Estado do Pará News com informações do G1 Roraima