O chefe da Defesa Civil do Estado de Roraima, coronel Francisco Cleudiomar Alves Ferreira, foi indiciado pelos crimes de calúnia, injúria e violência e psicológica contra uma soldada do Corpo de Bombeiros Militar de Roraima (CBM-RR).
(Foto: Reprodução / Facebook)
Conforme o inquérito policial, a mulher alega que vários episódios ocorreram durante o período em que trabalhou na Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil (CEPDC).
O processo está na 1ª Vara do Tribunal do Júri e da Justiça Militar do Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR). A juíza Lana Leitão Martins é a responsável pelo caso. No sistema, o assunto principal do caso consta como assédio sexual.
Assédio
Inicialmente, a soldada relata que coronel Cleudiomar Ferreira tentou beijá-la. O fato ocorreu quando ela estava grávida e foi a uma consulta no Serviço de Assistência de Saúde da Polícia Militar (SAS-PM), onde encontrou seu superior. Neste momento, ele pediu para que ela entrasse em seu carro para uma conversa.
Ele disse que a soldada era “uma grávida bonita” e logo em seguida tentou beijá-la. No entanto, a mulher saiu do carro imediatamente.
Após o período de licença maternidade, ela retornou ao trabalho e passou a atuar como comandante de equipe juntamente com brigadistas, assim como na condução da viatura. Posteriormente, passou a ser escalada como motorista de Cleudiomar.
Assédio nas missões militares
Ainda conforme o inquérito, durante uma missão em Rorainópolis, o coronel pediu para que ela fosse pernoitar em uma pousada com ele. Contudo , ela se negou. A mulher relatou que, após recusar, Cleudiomar ficou irritado.
Então, ela dormiu no quartel e, no dia seguinte, pediu para que alguém fosse buscá-la. Contudo, o coronel não autorizou e disse para que ela “desse um jeito” de ir à base da Defesa Civil na cidade.
Já em outra missão, dessa vez em Uiramutã, ela foi designada a conduzir a viatura que levaria o coronel. No entanto, segundo o relato, antes de seguir viagem, ele enviou uma mensagem por meio de aplicativo que dizia o seguinte: “mas eu quero ir para a pousada com você”. A bombeira se negou e o coronel disse: “não, tá bom… ou tudo ou nada”.
De acordo com a soldada, o chefe ficou irritado durante a missão. E, em outro momento, durante uma discussão em frente a uma escola, ele chegou a xingá-la de “p*ta”.
Com a continuidade da rispidez do coronel, eles voltaram a discutir dentro da viatura e ele passou a gritar com a bombeira. Foi quando ela reagiu e disse:
“O senhor acha certo chamar os outros de p**ta?”.
Violência psicológica e Lei Maria da Penha
Após ouvir os envolvidos e as testemunhas, o coronel Gewrly Batista, subcomandante do CBM-RR e encarregado do inquérito, apontou a existência de violência psicológica.
É que Cleudiomar manteve um relacionamento com a bombeira antes dos fatos denunciados, e, após o término da relação passou a tratá-la de maneira diferente durante o serviço militar.
Por outro lado, ao perceber que poderia ser denunciado, o chefe da Defesa Civil mudou a forma de escrever mensagens através de aplicativo para a vítima.
“Inclusive, apagando mensagens e listando possíveis vantagens concedidas a denunciante […] com intuito claro de deixar registrado sua superioridade frente a ela”, escreveu.
Prints inseridos e analisados no inquérito mostram que os dois mantiveram conversas através de WhatsApp mesmo após o fim da relação.
Além disso, após a denúncia, o Corpo de Bombeiros encaminhou a soldada para atendimento psicológico. Como resultado, o relatório da psicóloga e da assistente social apontou “indícios de abalo psicológico decorrente de traumas emocionais causado no âmbito laboral”.
O subcomandante avaliou que o relatório das profissionais “corrobora com para a comprovação da violência psicológica vivida pela bombeira no ambiente de trabalho por problemas gerados nas relações íntimas dela com o Cel. Cleudiomar que se estenderam para o ambiente profissional, principalmente após o término do relacionamento amoroso”.
Calúnia e injúria
Gewrly Batista destacou ainda o fato de Cleudiomar “ter reagido de forma nervosa” com a mulher durante o deslocamento na sede do município do Uiramutã, onde ela afirma que o militar a xingou. Testemunhas e prints de conversas de WhatsApp confirmaram a versão da soldada.
“Portanto, com fundamento nas provas arroladas nos autos, temos salvo melhor juízo, que há indícios de autoria e materialidade do cometimento de Crime Militar, injustos penais contra a honra, como calúnia e injúria […] e ainda violência psicológica, indiciando assim, o coronel Francisco Cleudiomar Alves Ferreira”, ressaltou.
Dessa forma, o coronel Cleudiomar Ferreira foi indiciado. De acordo com o advogado da vítima, Leocádio Menezes, o inquérito ficou cerca de três meses parado no setor de distribuição do TJRR.
Então, ele tomou medidas e, no último dia 28 de agosto, o processo foi distribuído e integrado no sistema do Tribunal. Apesar de o inquérito militar ser público, os nomes dos envolvidos não constam no sistema.
Embaraço
O inquérito cita que durante a apuração do caso, o coronel Cleudiomar Ferreira continuou exercendo a função de chefe da Defesa Civil. Desse modo, ele teria se aproveitado do cargo para causar embaraços às investigações. Ou seja, ele tentou atrapalhar.
Conforme algumas testemunhas do caso, o coronel realizou uma reunião na sala da Coordenadoria da Defesa Civil, para tratar sobre a denúncia feita pela vítima.
O inquérito relata ainda que os encarregados pelo caso tiveram dificuldade de obter provas documentais e informações por parte das testemunhas.
O relatório também explica Cleudiomar entregou 23 relatórios de viagens às investigações, mas somente um condiz com os solicitados.
“Verifica-se a desídia no que tange o cumprimento da ordem ou ainda intenção em dificultar a investigação”, diz o inquérito.
Citados
A reportagem entrou em contato com o Governo de Roraima para saber se pretende tomar medidas em relação ao caso. Questionou ainda se o Corpo de Bombeiros prestou algum tipo de apoio à soldada. Contudo, até a publicação desta reportagem, não obteve resposta.
Com informações do Roraima em Tempo