Uma mulher que foi condenada por tráfico de drogas recebeu a autorização para exploração de ouro em uma área de 9,8 mil hectares vizinha à Terra Indígena Yanomami, em Roraima. A permissão foi concedida pelo ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general da reserva Augusto Heleno.

(Foto: Reprodução / Divulgada TSE)

A decisão foi publicada no Diário Oficial da União (DOU), do dia 15 de dezembro. A beneficiária da ação é a garimpeira Creusa Buss Melotto. Ela é conhecida no Mato Grosso como Creusa Boiadeira, chegou a cumpriu pena de prisão por tráfico de drogas e foi denunciada por suspeita de receptação de pneus roubados. Creusa foi presa em flagrante, pagou a multa e foi solta.

Imagens mostram o avanço do garimpo ilegal na terra indígena Yanomami – (Foto: Divulgação)

O ex-ministro concedeu a autorização prévia em uma área com largura de 150 km. A autorização é indispensável para empreendimentos como mineração na faixa de fronteira. A permissão à exploração de ouro foi dada em 14 de dezembro de 2022 e publicado no Diário Oficial da União do dia seguinte. A autorização do Conselho de Defesa Nacional levou em conta pareceres favoráveis da Agência Nacional de Mineração (ANM). Creusa fez o requerimento em 2022 para atuar em uma área de 800 metros quadrados próximo da área indígena.
A mulher é presidente da Cooperativa de Exploração Mineral de Mucajaí-RR (Coopercajaí).  A cooperativa, segundo dados da Receita, tem capital social de R$ 1,45 milhão e quer explorar manganês, nióbio, titânio e metais preciosos. Ela chegou a participar de outra cooperativa de garimpeiros, em Pontes e Lacerda, em Mato Grosso, próximo à fronteira com a Bolívia. A Cooperativa de Mineração Dos Garimpeiros de Pontes e Lacerda (Compel) recebeu várias denúncias junto à Polícia Civil do Mato Grosso.
Atualmente, o presidente da Compel é Iporan Augusto Henrique Buss Melotto, filho de Creusa. Iporan Affonso Buss Melotto foi denunciado à Justiça Federal em 2020 apontado como membro de um grupo criminoso que explorava ilegalmente a extração de recursos minerais na Terra Indígena Sararé, localizada em Pontes e Lacerda.
Tráfico de drogas
Creusa foi condenada por tráfico no fim dos anos 90 presa após tentar despachar 42,5 quilos de cocaína para o estado do Rio de Janeiro, camuflada em 26 toneladas de carne congelada. Em 2020, disputou uma vaga para vereadora na Câmara de Ariquemes, em Rondônia, pelo Democracia Cristã, em 2020 e obteve 170 votos, mas não foi eleita. No registro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ela declarou patrimônio de R$ 1,1 milhão, entre veículos e uma área rural e se identificou como garimpeira.
Licenciamento
Em nota, a Fundação Estadual de Meio Ambiente e Recurso Hídricos (Femarh) informou que, até o momento, não foi formalizado pedido de licenciamento ambiental em nome da Cooperativa de Exploração Mineral de Mucajaí (Coopercajai). O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência não respondeu à reportagem até o fechamento da matéria. A reportagem também tentou contato com Creusa, mas não houve retorno.
Garimpo ilegal
A Terra Indígena Yanomami tem sofrido com os efeitos do garimpo ilegal. De acordo com lideranças indígenas, mais de 20 mil garimpeiros invadiram o território indígena e exploram ouro ilegalmente. Está prevista para o início deste ano uma operação militar, com participação do Exército Brasileiro, Força Aérea Brasileira (FAB), Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Polícia Federal para retirar garimpeiros do território.
Com informações da FolhaBv