Produção de açaí o ano todo para o estado do Pará e para o Brasil é a proposta da nova cultivar (variedade de planta cultivada) de açaizeiro (Euterpe oleracea) irrigado de terra firme da Embrapa, a BRS Pai d’Égua. A variedade atende às principais demandas da cadeia produtiva do açaí: a produção na entressafra e frutos menores, que facilitam o processamento e rendem mais, características que agradam ao produtor e ao mercado.
Um dos maiores diferenciais da nova variedade, segundo o agrônomo João Tomé de Farias neto, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, é a distribuição bem equilibrada da produção anual. A BRS Pai d’Égua produz 46% no período da entressafra (de janeiro a junho) e 54% na safra (de julho a dezembro). Outro ponto forte desse açaizeiro é a maior produtividade, chegando a 12 toneladas ao ano por hectare, enquanto o açaí manejado de várzea e o cultivado em terra firme sem irrigação produzem cerca de cinco t/ha/ano. Além de tudo isso, seus frutos menores rendem 30% mais polpa que os materiais tradicionais. Uma cultivar é uma variedade de planta cultivada, fruto da pesquisa com melhoramento genético.
Foto: Vinícios Braga
Açaí em números
O estado do Pará produziu em 2018, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 1,4 milhão de tonelada do fruto, em uma área de quase 200 mil hectares. Essa área envolve o manejo de áreas de várzea e os plantios de terra firme. Somente na economia paraense, o produto movimentou cerca de três bilhões de reais em 2018.
Desafios – Para ampliar a produção dessa palmeira nativa das áreas de várzea, a pesquisa vem trabalhando há mais de 20 anos. Além do manejo de açaizais nativos, em 2005, a Embrapa lançou a primeira de cultivar de açaizeiro para terra firme do mundo, a BRS Pará, responsável por ampliar o cultivo do açaizeiro no Pará e em outros estados brasileiros. “Para a nova cultivar, a BRS Pai d’Égua, precisávamos ir além, resolver um dos principais gargalos dessa cadeia produtiva: a sazonalidade”, conta o pesquisador. Cerca de 90% do açaí comercializado no Pará é produzido durante o período da safra, entre os meses de julho e dezembro.
Resultados surpreendem
O cientista conta que a BRS Pai d’Égua é resultado da pesquisa com melhoramento genético desse fruto. “O trabalho envolveu coleta de material genético (sementes) em diferentes regiões do estado, plantio em área experimental e seleção das melhores plantas ao longo de cinco anos”, explica João Tomé.
Os resultados do trabalho surpreenderam não somente a equipe de pesquisa, mas também o mercado. Para Márcio Coelho da Veiga, que trabalha como “batedor” de açaí desde 2001, “o rendimento dessa variedade foi surpreendente. Uma caixa de trinta quilos do açaí comum rendia de dez a 12 litros de polpa média, com esse açaí a gente chegou a 15 litros”, relata o comerciante.
Mas não foi somente o rendimento de polpa que chamou a atenção do comerciante, a consistência, cor e o sabor também impressionaram. “Qualquer batedor percebe imediatamente que a polpa desse açaí é mais espessa e cremosa”, frisa.
“Pai d’égua” – Muito utilizada na região Norte, especialmente no estado do Pará, a expressão “pai d’égua” refere-se a algo excelente, fantástico, muito bom. O especialista em Língua Portuguesa Roberto Fadel relata que não há registros sobre a origem etimológica dessa expressão, porém, sua origem cultural é a Ilha do Marajó. “Naquela região, os vaqueiros selecionavam os melhores reprodutores para gerarem éguas dóceis, mais apropriadas para o trabalho. Esses reprodutores eram os ‘pais das éguas”, conta o especialista.
Serviço:
Lançamento da BRS Pai d’Égua, nova variedade de açaizeiro irrigado para terra firme
Data: 29/11
Hora: 9h
Local: Embrapa Amazônia Oriental (Trav. Dr. Enéas Pinheiro, s/n)
Fonte: Embrapa Amazônia Oriental