“Nada justifica a morte de um jovem (…). É inexplicável, imperdoável.”

Com estas palavras, o presidente da França, Emmanuel Macron, reagiu na quarta-feira (28) à notícia de que um jovem de 17 anos morreu no dia anterior pelas mãos da polícia durante uma blitz de trânsito em Nanterre, perto de Paris.

Policiais armados para um carro amarelo

(Foto: REUTERS)

O presidente pediu “calma para que a justiça seja feita”.

No entanto, a França registra há dois dias protestos violentos na cidade onde o adolescente morreu e em outros locais do país.

A morte do jovem de origem norte-africana — identificado apenas como Nahel — causou grande choque, especialmente entre as comunidades dos subúrbios mais pobres das grandes cidades.

Um vídeo do incidente que circula nas redes sociais mostra um policial apontando uma arma para o motorista de um carro. Ouve-se um tiro e o carro para.

O adolescente morreu com ferimentos de bala no peito, apesar de ter sido atendido pelo serviço de emergência.

Por sua vez, o policial que atirou nele — que afirma ter disparado porque sentiu que sua vida estaria em perigo — está sob custódia, acusado de homicídio culposo.

As palavras apaziguadoras de Macron não parecem ter acalmado muito os ânimos e, além disso, desagradaram aos policiais.Na quarta-feira, milhares de agentes de segurança foram mobilizados para lidar com uma segunda noite de tumultos.

Na quarta-feira, milhares de agentes de segurança foram mobilizados para lidar com uma segunda noite de tumultos.

Em Nanterre, a oeste de Paris, cerca de 31 pessoas foram presas na terça-feira, depois que carros e latas de lixo foram incendiados e pontos de ônibus destruídos. Fogos de artifício foram lançados perto de uma delegacia de polícia. A tropa de choque usou gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes, alguns dos quais haviam erguido barricadas.

A polícia de Paris disse ter contido “episódios esporádicos” de violência. Em Toulouse, manifestantes iniciaram um incêndio e atiraram pedras nos bombeiros que tentavam apagá-lo.

Manifestantes e polícia também entraram em confronto na cidade de Lille, no norte.

Os comentários de Macron foram mal recebidos pelos sindicatos de policiais, que acusaram o presidente de julgar apressadamente os policiais envolvidos.

O sindicato Alliance Police pediu que a inocência dos policiais seja presumida até que sejam considerados culpados. O sindicato Unite SGP Police também falou sobre intervenções políticas que fomentam o “ódio anti-policial”.

De acordo com a imprensa francesa, a polícia disse inicialmente que o adolescente estava dirigindo seu carro em direção a eles com a intenção de atacá-los.

Mas imagens publicadas online e verificadas pela agência de notícias AFP mostram um policial apontando sua arma para o motorista pela janela e aparentemente atirando à queima-roupa enquanto o carro tentava seguir adiante.

O ministro do Interior, Gérald Darmanin, disse que entrará com uma ação legal contra outro sindicato que postou o que chamou de um tuíte “inaceitável e abjeto” que buscava justificar a morte do adolescente.

A primeira-ministra francesa Élisabeth Borne também se pronunciou, dizendo que a intervenção policial “não está de acordo com as regras”.

No momento do tiroteio, havia outros dois jovens no carro. Um fugiu e o outro, também menor de idade, foi preso e detido pela polícia.

Nahel é a segunda pessoa este ano na França a ser morta em um tiroteio policial durante uma blitz de trânsito. No ano passado, um recorde de 13 pessoas morreram dessa forma.

Manifestação

Em um vídeo postado no TikTok, a mãe de Nahel, Mounia, pediu às pessoas que se juntem a ela em uma marcha por seu filho.

“Venham todos, eu imploro”, disse ela. “Estaremos todos lá.”

As autoridades abriram duas investigações separadas após a morte do adolescente: uma sobre um possível homicídio por funcionário público e outra sobre a falha do motorista em parar o veículo e a suposta tentativa de matar um policial.

O chefe da polícia de Paris, Laurent Nuñez, disse à estação de televisão francesa BFMTV que as ações do policial “levantam questões”, embora ele tenha sugerido que o policial pode ter se sentido ameaçado.

O advogado da família do jovem de 17 anos, Yassine Bouzrou, insistiu que era uma defesa ilegítima, dizendo ao mesmo canal que o vídeo “mostrava claramente um policial matando um jovem a sangue frio”.

Ele acrescentou que a família apresentou uma queixa contra a polícia por “mentir”.

EP Estado do Pará News com informações BBC News Brasil