Um casal de moradores da vicinal 6 em Alto Alegre, no noroeste do estado de Roraima, registrou boletim de ocorrência no primeiro distrito policial, por causa de uma fiscalização comandada pelo IBama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) na região.
(Foto: Nilzete Franco)
Segundo a comerciante Sandra Maria Souza, ela estava em seu comércio que fica na margem da estrada na área dentro de uma fazenda chamada “Fazenda Arame” quando os ficais chegaram em dois helicópteros e tocaram fogo no local.
“A propriedade não é minha. Eu trabalho lá e o dono cedeu um pedaço do terreno para a gente trabalhar e antes de ontem eles chegaram de surpresa com os helicópteros. Eu corri pra dentro pra salvar alguma coisa mas quando vi os policiais já estavam lá com armas apontando para a gente e nos mandando sair. Tentei pegar ao menos o dinheiro e o celular, mas não deixaram. Quando vi estava tudo queimando” contou Sandra.
A comerciante denunciou que os agentes foram muito truculentos e estavam em busca de ouro e mercúrio.
“Perguntavam cadê o ouro, onde eu escondia o ouro e o dinheiro e o mercúrio. Eu respondia que eram comerciante, que vendia comida, e que lá era propriedade particular e não área de garimpo, mas eles nem me ouviam. Ficaram me xingando, brigando e mandando eu sair. Pedi pra retirar do comércio o meu rancho pois eu não estava em área indígena, mas eles não deixaram também. Diziam que eu era criminosa e alimentava garimpeiro” contou a comerciante chorando muito após o registro da ocorrência.
Maria conta que ainda tentou lembrar da lei aprovada pela Assembleia proibindo a queima de bens, mas os agentes tocaram fogo em tudo que lhe pertencia.
“Falaram que a lei não valia nada. Eu pedia para olharem no mapa que lá não era área indígena mas queimaram tudo, além de apreenderem meu dinheiro, dois meses de venda no meu comercio. Destruíram meu motor de energia, também”
Sandra Maria reclamou ainda da forma como foi tratada pelos agentes.
“Ia usar o dinheiro para pagar a faculdade das minhas filhas que está atrasada. Eu tentei pegar meu dinheiro e bateram na minha mão, mandaram eu sair de perto e quando queimaram tudo eu tentei salvar as carnes refrigerantes, arroz e feijão, mas eles impediram. Esse rancho dava pros meus filhos comerem um bocado de tempo, mas eles nem queriam saber. Me trataram com indignidade e quando me viram no chão colocaram a arma em mim e ameaçaram atirar”.
“Estava passando mal, estou hipertensa e diabética e eles diziam iam colocar spray de pimenta na minha cara. Eu sair correndo e quando outras pessoas tentaram me ajudar eles atiraram em todo mundo. Só via as balas passando e eu pedia pelo amor de deus para não atirarem, mas não queriam saber”
Ação no MPF e Ibama
Por conta da ação, o deputado estadual George Melo e o empresário Rodrigo Cataratas deram entrada em uma ação no Ministério Público Federal, além de um requerimento no Ibama, pedindo providências sobre a questão.
Essa foi a primeira operação realizada por fiscais ambientais, após sanção da lei 1.071/2022, de autoria do deputado estadual George Melo (Podemos) que proíbe a destruição de bens e equipamentos em operações realizadas por Órgãos de Fiscalização, Polícia Militar e a Companhia Independente de Policiamento Ambiental em terras pertencentes ao Estado.
“Os órgãos de fiscalização precisam entender que existe uma lei sancionada pelo governador do Estado Antonio Denarium que está em vigor e precisa ser respeitada dentro do território Roraimense, a lei é justamente para resguardar os equipamentos e bens desses trabalhadores”, explicou o deputado George Melo.
“Essa ação criminosa desses agentes, é revoltante e prepotente. A abordagem dentro de uma área particular me surpreendeu, pois foram cometidos vários crimes como tentativa de homicídio, lesão corporal, subtração de pertences e destruição de bens. Para mim, essa operação foi uma espécie de intimidação sem precedentes. Não podemos aceitar isso, o que a gente viu foi uma intervenção federal cometida por esses órgãos ambientais. Eu não tenho dúvidas que eles serão responsabilizados, a altura da lei, e os servidores sob pena de serem exonerados do serviço público, por cometerem excessos dessa natureza”, disse.
Segundo eles, os agentes do Ibama cometeram vários crimes citados por eles como: não se identificar como agentes do Ibama, não apresentar ordem judicial, cometer agressões verbais e tentativa de homicídio. Segundo o registro dos denunciantes eles também teriam ateado fogo em uma residência com geradores e tratores, além de subtrair dinheiro em espécie e pertences das vítimas como celulares e documentos pessoais, além do estoque de mantimentos e alimentos.
O requerimento protocolado na justiça, obriga que em cinco dias, o IBama dê respostas à Assembleia Legislativa do Estado, bem como ao deputado George Melo autor da lei, quanto as ações realizadas, sob pena de ajuizamento de outra ação contra à administração do órgão.
Outro Lado
A reportagem não conseguiu contato com o Ibama. O espaço está aberto para esclarecimentos.
Com informações da FolhaBv