Pelo menos dois candidatos das eleições municipais de 2024 se identificam como indígenas e garimpeiros, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ambos são de Jacareacanga (PA), cidade no Vale do Rio Tapajós com uma das maiores áreas mineradas do país.
(Foto: Divulgação)
Indígenas e garimpeiros estão historicamente em lados opostos. Em maio de 2021 por exemplo, uma liderança do povo Munduruku no mesmo município desses candidatos teve sua casa incendiada por garimpeiros porque lutava contra a mineração ilegal.
No entanto, parte dos indígenas da região se aliou aos garimpeiros e até se identifica dessa forma. Em Jacareacanga já houve até protesto de indígenas a favor da legalização do garimpo.
É o caso do garimpeiro Munduruku Thomaz Boro (Podemos), que é candidato a vice-prefeito na chapa do também garimpeiro Raimundinho (Pode), ex-prefeito da cidade.
O projeto de governo da dupla de garimpeiros prevê o apoio à área garimpeira, além de busca de parcerias para cadastrar e licenciar os garimpos. Na área da educação, os candidatos defendem uma melhora no ensino das escolas municipais da Educação Rural e Garimpeira.
Já o candidato a vereador de Jacareacanga que se identifica como garimpeiro e indígena é Josimar Saure (PSB).
Na dianteira do garimpo
O estado do Pará liderou o número de inquéritos da Polícia Federal sobre o crime de extração de recursos minerais sem autorização, em 2022, com 103 investigações criminais. É o que demonstra o relatório A Nova Corrida do Ouro na Amazônia, lançado recentemente pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Uma outra particularidade do Pará demonstrada neste relatório é que o estado do norte do país é o único em que o licenciamento ambiental para ter permissão de lavra garimpeira é de responsabilidade de órgãos ambientais municipais.
Para se ter uma noção, a área da prefeitura de Jacareacanga que cuida deste licenciamento se chama Secretaria de Meio Ambiente e Mineração.
O pesquisador da Universidade Federal de Roraima (UFRR) Rodrigo Chagas participou da elaboração desse estudo e disse que durante a pesquisa de campo entrevistou indígenas que são garimpeiros.
Ele explica que o governo da Ditadura Militar incentivou o garimpo na Amazônia como forma de colonização e criou-se um problema de difícil solução que continua até hoje. Os povos indígenas mais afetados pela mineração, segundo Chagas, são os Yanomami, Munduruku e Kayapó.
Muitos massacres contra os indígenas foram registrados nesse processo de colonização pelo garimpo, mas ao mesmo tempo os garimpeiros acabaram criando relações com os indígenas de muitos anos.
“Esse é o problema de romantizar o indígena ou o garimpeiro. A coisa é muito mais complexa”, avalia Chagas.
Fonte: Metrópoles