A seca histórica no Amazonas está ameaçando paralisar as fábricas do polo industrial de Manaus, onde se concentra a produção nacional de eletrodomésticos, aparelhos eletrônicos e motocicletas. Nos últimos dias, as condições de transporte de cargas pelo rio Amazonas e seus afluentes pioraram drasticamente, resultando em atrasos na entrega de materiais e acumulação de produtos nos estoques das fábricas.
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Até o momento, as empresas têm conseguido administrar a situação com ajustes na produção, evitando uma paralisação completa das linhas de produção. No entanto, com o estresse logístico se aproximando do limite e sem perspectivas de normalização da navegabilidade no curto prazo, algumas empresas já convocaram reuniões para discutir a possibilidade de conceder férias coletivas aos trabalhadores nos próximos dias. Essa informação foi confirmada tanto pela Eletros, a associação que representa fabricantes de eletrodomésticos, quanto pelo sindicato dos metalúrgicos da região.
A seca extrema afetou a capacidade de grandes embarcações acessarem o porto de Manaus devido à redução dos níveis de água, que caíram abaixo da profundidade mínima necessária para a passagem segura de navios de grande calado. A alternativa tem sido transportar cargas por balsas entre Manaus e o Porto Vila do Conde, em Barcarena, no Pará, de onde as mercadorias são transferidas para navios de maior porte.
No entanto, as balsas transportam apenas 10% da carga de um navio, e sua velocidade é limitada devido às restrições de navegabilidade, o que aumenta o tempo de transporte. Essas soluções alternativas também resultam em custos mais elevados de transporte, devido às despesas adicionais com armazenagem de materiais por mais tempo nos portos e transferências imprevistas de contêineres.
De acordo com Augusto César Rocha, coordenador da comissão de logística do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), os contratempos aumentaram os custos de frete na região em até 50%, dependendo do contrato.
Jorge Nascimento, presidente da Eletros, revelou que a associação já recebeu informações de seus associados sobre planos de concessão de férias coletivas nas fábricas. As indústrias enfrentam dificuldades para receber insumos e precisam lidar com o aumento de estoques nos pátios devido à falta de envio regular de mercadorias.
Valdemir de Souza Santana, presidente do sindicato dos metalúrgicos do Amazonas, confirmou que a entidade recebeu avisos sobre possíveis paralisações na produção, não apenas na indústria de eletroeletrônicos, mas também na indústria de motocicletas. Ele relatou que “algumas empresas só terão matéria-prima daqui a 15 dias”.
Por enquanto, não há risco de falta de produtos nas lojas durante a Black Friday, que ocorrerá na última sexta-feira de novembro. No entanto, para garantir a normalidade das entregas de Natal, que começam no final deste mês, é essencial que o rio volte a subir.
Como a seca no Norte do Brasil é um fenômeno sazonal, a indústria antecipou a produção e as entregas nos últimos meses para evitar a escassez. No entanto, a seca de 2023, agravada pelo El Niño, superou as expectativas e pode ser a pior da história, afetando uma área maior e prolongando-se até o final do primeiro semestre de 2024.
Operadores logísticos alertaram seus clientes durante a semana que não há previsão de quando os grandes navios poderão retornar a Manaus. Uma reunião foi agendada com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) para a próxima sexta-feira (20), para discutir a situação, e representantes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) também foram convidados para estabelecer um comitê de crise.
Augusto César Rocha, do Cieam, afirmou que um levantamento interno indicou que apenas 4% das indústrias da região foram impactadas pela seca até o momento. No entanto, ele destacou que, caso os trabalhos de dragagem não se iniciem em breve, a situação pode piorar até o final de novembro, com a preocupação de como estará o cenário até 30 de novembro, se a profundidade mínima de 8 metros para a passagem de navios não for garantida.
EP Estado do Pará News com informações do portal AM